No tempo da Rainha Santa…

Mercado Medieval de Óbidos celebra 10 anos

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O Mercado Medieval irá decorrer de 07 a 24 Julho 2011 (apenas aberto de 5ª feira a Domingo) na Vila de Óbidos, mais propriamente na Cerca Velha – antigo campo de treino de cavaleiros e escudeiros deste reino. É aqui, local privilegiado pela sua ambiência tosca, que o visitante começa a viagem no tempo por entre tabernas de comes e bebes, artesãos e mercadores oriundos dos 4 cantos de Portugal e de alguns países da Europa.

Um pouco por todo o mercado é possível avistar bobos, cuspidores de fogo, dançarinos, músicos e jograis especialistas nas artes divertir as gentes.

Este, e para celebrar o 10.º aniversário do Mercado Medieval de Óbidos, será “No tempo da Rainha santa…”. Muitas foram as doenças que ceifaram vidas, algumas chegavam como o vento, tragavam almas e desapareciam sem ninguém saber como, outras ficavam e martirizavam as populações por longos anos. Sempre vistas como castigo de Deus, surgiam para expiar os pecados da humanidade. Poderiam ser mal dos ardentes, doenças contagiosas, ferimentos, hemorragias ou afecções mentais. Uma das afecções mentais que mais cuidado exigia era a das possessões demoníacas que era um “mal” feminino e que afectava as raparigas na idade da adolescência. Para a cura dos males recorria-se a físicos, curandeiros da medicina popular e aos milagres. O milagre é encarado como uma forma de cura para muitos dos “males” e doenças existentes, o povo é quem mais recorre à oração, penitência e peregrinação.

Quando a medicina dos físicos falhava, também, a nobreza recorria ao milagre para a cura dos seus males, muitos afectados por doenças profissionais, como traumatismos, hemorragias e ferimentos, encontravam nos santuários, donativos e procissões formas de atingir a graça de Deus e conseguir a cura.

As doenças de olhos, surdez e paralisias eram as que registam maior sucesso de cura. Para conseguir a graça da cura são muitos os santos evocados, relíquias visitados e léguas percorridas até aos santuários. S. Telmo e Santa Maria, são Santos de grande devoção, atingem grande sucesso na Idade Média na Península Ibérica. Também à Rainha Santa são atribuídos grandiosos milagres e ao seu tumulo organizadas grandes Peregrinações.

Os Homens ambicionam ardentemente efectuar pelo menos uma peregrinação. A peregrinação reveste-se sempre de uma dimensão religiosa ao serviço de Deus e em honra dos Santos. Os peregrinos pretendem aproximarem-se dos lugares santificados pela presença de Jesus e dos restos mortais daqueles que estiveram em contacto muito estreito com Cristo, como S. Tiago. Aproximar-se dos restos mortais de um discípulo era, sem dúvida, um privilégio na medida em que a sua inclusão no estreito círculo dos confidentes de Jesus o transformava num intercessor privilegiado.

Em virtude desta dimensão religiosa é que se dispensava aos peregrinos todo o auxílio de que tinham necessidade. “Todos devem receber com caridade y respeito os peregrinos, ricos o pobres. Os que a vocês recebem a Mim também me recebe.” Na certeza da reciprocidade divina, traduzida sob forma de perdão dos pecados, a Peregrinação assume-se como movimento cultural e religioso de grande importância e respeito na Idade Média.

Foram várias as instituições que se dedicaram à Caridade. A Caridade dá assistência a quem mais precisa; albergarias, asilos, mosteiros e a extraordinária acção desenvolvida pela sua densa rede, hospitais, esses, que se confundiam com as albergarias, e em que os serviços prestados oscilavam, segundo as localidades e o modo como aí estava organizada a assistência, podendo ou não dispor dos serviços do físico, o funcionamento da assistência variava consoante a boa vontade e poder económico dos vizinhos que praticavam a caridade.

Os cuidados assistenciais eram muito precários, não indo muito além da protecção a abrigo contra as intempéries, fogueira, sal, água, candeia, um leito modesto para pernoitar e alguma refeição frugal. Internamento, caso tivesse lugar, seria sempre uma situação transitória, que, geralmente, não ultrapassaria dois ou três dias.

A solidariedade e o sentimento de comiseração evocam o contacto com as necessidades e o sofrimento do semelhante, sob a evocação de um Santo surgem as Irmandades fomentam a caridade e promovem a devoção e culto a um Santo, muitas vezes sob a forma de Procissões.

Vai ser este ambiente que poderá encontrar no Mercado Medieval de Óbidos.