Diversos vestígios dos períodos Pré-histórico e Romano foram recentemente encontrados numa intervenção de emergência, realizada pela equipa de arqueólogos da Câmara Municipal, na Granja, A-da-Gorda, no concelho de Óbidos. Bifaces (instrumentos pré-históricos) e diversas cerâmicas romanas são alguns dos materiais encontrados.
Esta intervenção de emergência teve o seu início em meados de Maio, quando um munícipe promovia trabalhos de remoção de terras naquele local, com o objectivo de preparar o terreno para a plantação de um pomar.
Durante as prospecções de campo para o Estudo de Âmbito Arqueológico do Concelho de Óbidos (2005-2008), identificaram-se duas áreas de dispersão de materiais arqueológicos na referida propriedade, que foram interpretadas como pertencendo a um possível casal do Período Romano e a uma estação arqueológica de superfície do Paleolítico Inferior (Acheulense).
Dado que os trabalhos de remoção de terras decorriam sem a presença de um arqueólogo, o património arqueológico encontrava-se em perigo iminente de destruição. Por conseguinte, a Câmara Municipal de Óbidos decidiu enviar os técnicos do Serviço de Arqueologia para o local, tendo em vista a realização de trabalhos arqueológicos de emergência.
Depois da autorização do IGESPAR, os técnicos do Serviço de Arqueologia começaram os trabalhos de prospecção e de acompanhamento, com a finalidade de avaliar os eventuais danos sobre o património arqueológico e de minimizar os impactes negativos resultantes da execução do projecto.
Até ao momento, os trabalhos permitiram a identificação de vestígios arqueológicos, que obrigaram a realizar acções de registo fotográfico e gráfico e mesmo de escavação. Também se recolheram muitos materiais cerâmicos e líticos.
Nos cortes de uma grande vala, encontrou-se uma cascalheira com seixos rolados de média e grande dimensão e materiais líticos, enquadráveis no Paleolítico Inferior (Acheulense). Destaca-se a presença de um biface.
Nos cortes de duas valas, detectaram-se pedras irregulares de pequena, média e grande dimensão, que podem constituir vestígios de estruturas do período romano. Estes vestígios surgem associados a maiores concentrações de cerâmicas romanas.
Durante a angariação de terras, encontrou-se uma estrutura negativa (tipo fossa) atribuível ao período romano, contendo dois silhares (pedras de construção) bem aparelhados, bem como muitas pedras irregulares miúdas, de pequena e média dimensão. Também se recolheram cerâmicas romanas.
No seio de outras valas, identificou-se uma possível cisterna e um pequeno canal, de cronologia provavelmente moderna. Trata-se de estruturas de apoio à agricultura, que ocorrem numa zona húmida da propriedade. De acordo com a investigação histórica, esta propriedade designava-se Quinta da Granja nos séculos XVII e XVIII, tendo pertencido à família Leal Moreira.