Óbidos recria tradição e faz espetáculo com 200 atores

“Maiando o Maio”

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A vila de Óbidos quer manter viva a tradição dos Maios ou Maias. A iniciativa “Maiando o Maio”, dinamizada por associações e particulares, conta com uma série de ações que, este ano, passam, entre outras, por embelezar todas as fontes e fontanários do concelho com as famosas flores amarelas, assim como um espetáculo, em A-dos-Negros, que vai juntar mais de 200 atores.

Segundo Celeste Afonso, organizadora desta iniciativa, “o projeto «Maiando o Maio» afirma-se da comunidade para a comunidade, perscrutando o nosso passado e traduzindo-o no nosso presente, partindo da pesquisa e estudo da tradição e memória do território”. Nesta segunda edição, “o projeto consolida-se junto da comunidade e conta com o envolvimento de associações locais, de bandas filarmónicas, da Academia de Música de Óbidos, de ranchos folclóricos, de coros, dos centros de dia Melhor idade, de grupos de teatro amador, de músicos locais, do Agrupamento de escolas Josefa de Óbidos, das juntas de freguesia e de muitos habitantes e amigos do concelho”.

Este ano, na noite de 30 de abril, na Porta da Vila, em Óbidos, haverá a preparação das maias para posterior enramalhamento das portas e janelas e maiar a vila. Haverá animação musical com músicos locais. “Fazemos o convite a todos os que tocam instrumentos tradicionais que os levem e toquem. Pretende-se uma animação informal, em jeito de desgarrada”, apela Celeste Afonso. No final da noite decorrerá uma ceia comunitária, oferecida pelas juntas de freguesia do concelho.

Dias 18 e 19 de maio, a população é convidada a adotar uma fonte, um ponto ou curso de água, e a enfeitá-lo com flores naturais. “As várias salas dos centros de dia do programa municipal Melhor Idade e as salas dos Jardins de Infância já adotaram algumas e encarregam-se do seu enfeite”, explica a responsável, acrescentando que “há ainda muitas outras que poderão ser enfeitadas pelos moradores, de forma autónoma”. O percurso com as fontes enfeitadas assinaladas será, posteriormente, divulgado para que a comunidade e os turistas as possam visitar.

Um dos pontos altos desta ação acontece em A-dos Negros, no dia 18 de maio, com o espetáculo Bona Dea, que juntará cerca de 200 atores. “Esta é uma novidade deste ano e que queremos que se repita anualmente”, explica Celeste Afonso. “Na impossibilidade de termos os grupos e artistas locais a atuarem em cada uma das aldeias, optámos por montar um espetáculo que envolvesse o maior número de artistas locais, rotativamente em cada uma das localidades do concelho. Este ano, está a ser feito em A-dos-Negros e envolve cerca de 200 atores, oriundos de várias associações do concelho”, sublinha. Este é um espetáculo que “cruza várias linguagens: o teatro visual, a música, a dança e o canto numa convivência festiva onde o público é convidado a visitar a aldeia através de um percurso. Procurámos neste encontro com a aldeia uma forma de revisitarmos a festa “As Maias” e em conjunto com a comunidade local criar um espetáculo a partir deste universo, valorizando a ideia de Celebração, de vida, de fertilidade, de renascimento, de força, de culto, de terra, de natureza”.

Este trabalho está a ser coordenado pela Mafalda Saloio que, entre outras coisas, desenvolve trabalho com a comunidade, utilizando o teatro como um ponto de encontro e desenvolvimento humano.

Recorde-se que os Maios, ou a festa das Maias, é um rito ancestral, perpetuando-se de forma indelével nos traços culturais da Vila de Óbidos, atestando a sua antiguidade e a continuidade da ocupação humana há mais de 2 mil anos.

Nos inícios do século XX, a Câmara Municipal de Óbidos escolheu para o seu feriado o dia 1.º de Maio (sendo, atualmente, a 11 de janeiro). A escolha desta data nada tem a ver com o facto de internacionalmente se celebrar o Dia do Trabalhador. Presume-se que o dia 1 de Maio tenha sido escolhido por existir na vila uma antiga tradição designada por Maios, outrora um acontecimento muito participado pelos habitantes de Óbidos.

Mandava a tradição que a noite de 30 para 1 de Maio fosse passada em confraternização, organizando-se uma pequena festa, após a recolha de algumas ofertas junto das casas comerciais a fim de serem aplicadas na compra do bacalhau e do azeite, que os rapazes e os homens da Vila costumam comer pelas três ou quatro horas da madrugada, na longa noite dos Maios.

A tradição mandava ainda que os rapazes, sem distinções sociais, se deslocassem aos campos e, ao som de instrumentos musicais, essencialmente de corda, apanhassem maios, madressilvas, giestas floridas, folhados, rosas silvestres, entre outras, para as espalharem durante a madrugada pela Vila.

A população, para evitar que o “maio os encontrasse na cama” e “ficassem amarelos o resto do ano”, levantava-se cedo, preparando-se para ouvir a música, os foguetes e encontrar a vila maiada, com as aldrabas das portas e as janelas das habitações enfeitadas e os adros das igrejas atapetados de flores.

Este ano, a tradição repete-se e recria-se!

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