Ciclo de Tertúlias da Confraria do Pão em Óbidos

Casa do Arco da Cadeia

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No passado dia 7 de dezembro de 2013, na Casa do Arco da Cadeia, em Óbidos – Casa Museu de Maria José Salavisa e Abílio de Mattos e Silva – inaugurou-se o Ciclo de Tertúlias da Confraria do Pão de Santo António, com o tema “Pão e Identidade”.

Esta confraria tem sede na Associação dos Industriais de Panificação de Lisboa e reúne todas as personalidades de relevância no mundo da panificação Portuguesa. Tem por missão reinventar o Pãozinho de Santo António e a superstição a si associada, promovendo todos os anos, a 13 de Junho, a eleição dos três legítimos pães de Santo António, concebidos pelas panificadoras envolvidas na missão solidária de doarem cerca de 1000 destes pãezinhos a uma instituição de solidariedade da sua área de residência, ou fazerem reverter o respetivo valor monetário da sua venda à instituição por eles escolhida.

Foi neste ambiente medieval que se discutiu o tema “Pão e Identidade” com as intervenções de Mouette Barboff, antropóloga de formação, que dedicou décadas de estudo ao pão Português. A autora do livro “A Tradição do Pão em Portugal”, edição dos CTT, bem como do livro “O Pão Português” e ainda “Terra Mãe, Terra Pão”, colocou à discussão o facto do pão português ter perdido alguma da sua autenticidade pela substituição do cereal de produção nacional pelo cereal importado. E, consequentemente, pelo abandono do cultivo das “sementes” que eram deixadas de geração em geração, enquanto património de identidade, na ótica da perda de biodiversidade. Dessa reflexão concluiu-se ser utópico a recuperação dos cultivos de cereais em território agrícola português, sendo que o trabalho de criação de Denominações de Origem Controlada (DOC) passará por identificar e controlar os métodos de fabrico, pela qualidade dos ingredientes e não pela sua origem.

A antropóloga Teresa Perdigão, emocionou os intervenientes com a sua pesquisa “Em Busca do Pão”, pela forma como apresentou diversas imagens das festas nacionais que têm como elemento principal o pão, como é o caso das festas de Tomar e as festas do Espírito Santo dos Açores. Referiu ainda a contribuição dos nossos pães para ao reconhecimento da Dieta Mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade. Trouxe a todos os presentes um sentimento de orgulho e propriedade cultural, reforçando que o pão é de todos nós, enquanto identidade de um povo. Mais do que isso, fez com que a plateia concluísse que o pão mais do que identidade é, de algum modo, o que nós somos, as nossas memórias e o que transferimos para cada naco de pão.

A tertúlia, em Óbidos contou com a moderação de Teresa Santos, Secretária Geral da APTECE, que ganhou para a candidatura do Congresso Mundial de Turismo Gastronómico 2015, para Portugal, numa renhida disputa com países como o Equador, o Chile e a Argentina.

Teresa Santos falou na importância de reavivar as memórias associadas à tradição do Pão Português como forma de reconquistar o consumidor nacional e cativar o turismo gastronómico, pela identificação clara e objetiva das características e história dos diversos tipos de pão que constituem a riqueza do nosso património gastronómico.

A presença da vereadora da Câmara Municipal de Óbidos, Celeste Afonso, veio reafirmar o valor destas tertúlias e a necessidade de refletirmos sobre o que é nosso. A autarca falou da importância deste tema que une duas importantes vertentes da relação com a comunidade: a identidade, que é feita de muitos valores e que se concretiza na capacidade de atualizar, modernizar e globalizar no local e com o local e o pão, esse elemento que une cada povo e cada lugar. Confirmando que a estratégia de Óbidos passa por fazer do território um espaço de trabalho e reflexão com e para a comunidade.

E porque em torno da discussão “Pão e Identidade” gera-se Responsabilidade Social, foram doadas 200 unidades de Pão à rede Social de Óbidos, que entregues na Associação de Desenvolvimento Social da Freguesia de A-dos-Negros e aos Guias de São Lourenço (Associação de Voluntários de Óbidos) gentilmente cedidos pelo confrade Fernando Crispim da “Panificadora PanCrisp”, que proporcionaram um momento de acarinhamento e envolvimento comunitário.

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