Obra de Eduardo Malta no Museu Municipal de Óbidos

Museu Municipal de Óbidos

1647

O Museu Municipal de Óbidos, sediado no espaço do Solar da Praça de Santa Maria / Casa Malta, recebeu em espólio, do Dr. António Brás, a obra E. Malta, Vinte e Quatro Héliogravuras com um estudo crítico, por Ricardo Espírito Santo Silva. Esta obra permite conferir a importância, qualidade e perfeccionismo artístico do artista Eduardo Malta.

No início dos anos 60, Eduardo Malta comprou em hasta pública o Solar da Praça de Santa Maria (também conhecido como Solar dos Brito Pegada) no centro de Óbidos, um edifício maneirista remodelado após o terramoto de Lisboa de 1755, para o oferecer à sua mulher, Dulce, que mais tarde restaurou para ambos o habitarem.

Este pintor conservador e academista faleceu a 30 de Maio de 1967, na sua casa de Óbidos, hoje convertida em Museu Municipal. No Museu Municipal é possível visitar a sala de Eduardo Malta – espaço que foi preservado no Solar, onde se pode ver para além de obra do artista , o auto-retrato que o artista pintou para doar à sua esposa, Dulce Malta.

Eduardo Malta  |  1900-1967  |  Pintor e escritor

Eduardo Malta nasceu no Largo de São João, na cidade da Covilhã, a 28 de Outubro de 1900. Filho de Manuel Morais, era parente do escultor Manuel Morais e do escritor Raul Brandão.

Desde a infância exibiu os seus dotes de artista. Aos 4 anos de idade já fazia desenhos de espantar e aos 9 imitava na perfeição os selos postais. Foi, assim, que, com toda a naturalidade, depois de concluídos os estudos primários na Covilhã, se matriculou com 10 anos de idade na Escola de Belas Artes do Porto, contrariando o desejo do seu pai de o ver seguir Medicina, mas cumprindo a sua vocação. Nos sete anos seguintes estudou na ESBAP, escola onde, entre outros, teve por mestre o pintor naturalista Marques de Oliveira (1853-1927).

Durante a sua carreira retratou políticos, membros da alta sociedade e das artes, de Portugal, Espanha e Brasil, e ainda figuras do povo. São famosos, por exemplo, os seus retratos de António de Oliveira Salazar, do Presidente da República Craveiro Lopes, do Cardeal Cerejeira, do poeta Teixeira de Pacoaes, do escritor Aquilino Ribeiro, do banqueiro e colecionador de arte Ricardo do Espírito Santo Silva, da fadista Amália, do ditador espanhol General Primo de Rivera (retrato equestre), obra muito bem recebida em Madrid e que lhe granjeou fama internacional, ou do Presidente Brasileiro Getúlio Vargas.

Com o pintor coevo Henrique Medina (1901-1989) partilhou o epíteto de retratista do regime; no entanto, produziu outro tipo de obras, como estudos de nus (desenhos e pinturas), ilustrações e desenhos destinados a livros (de Henrique Galvão, de Augusto de Santa Rita, de João de Vasconcellos e Sá, etc.), edições do jornal “O Século” e, ainda, cenários para a revista teatral “O País da Guedelha” (1921), criada pelo jornalista Mário Quintela (1872-1956), assim como maquetas de cenário para a Companhia Rey Colaço Robles Monteiro, entre 1927 e 1940.

Expôs em Lisboa, em Madrid, em Paris, em Londres e no Rio de Janeiro. Foi membro da Academia de Belas Artes e membro correspondente da Real Academia das Artes de San Fernando, Madrid.

Foi também escultor, escritor de romances e de livros sobre arte, intérprete cinematográfico, conferencista, cronista em programas de rádio e colaborador de publicações periódicas, portuguesas e estrangeiras. Não foi, nunca, uma figura consensual, tendo-se envolvido em várias polémicas no seio do meio artístico. Em 1952, durante a eleição de júris para a escolha de trabalhos a apresentar ao Salão Primavera, Malta acusou injustamente José Dias Coelho (1923-1961) de práticas desonestas, um episódio que desencadeou a sua expulsão da Sociedade Nacional de Belas Artes e o encerramento temporário desta instituição. Sete anos mais tarde, em 1959, ao ser nomeado Diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea (1959-1967), sucedendo ao escultor Diogo de Macedo, foi alvo de vivos protestos de artistas e críticos de arte.