Lamentação de Josefa de Óbidos segue para restauro, em Tomar

Parceria

739

Numa parceria entre a Câmara Municipal de Óbidos, o Instituto Politécnico de Tomar e a Paróquia de Santa Maria de Óbidos, seguiu para os laboratórios do Instituto Politécnico de Tomar a tela “Lamentação sobre Cristo Morto”, de Josefa de Óbidos (c.1670).

Trata-se de uma peça muito relevante pela sua qualidade, porém nunca apresentada em qualquer exposição realizada sobre esta prolífera pintora (Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, em 1949; Óbidos, em 1983; Palácio da Ajuda em Lisboa, em 1991; diversas exposições em Itália, França e Estados Unidos; novamente Óbidos, na exposição dedicada ao pai, Baltazar Gomes Figueira, em 2006; e recentemente no Museu Nacional de Arte Antiga).

Josefa de Ayala seguiu os passos do seu pai, tornando-se herdeira da oficina de pintura de Óbidos e a sua protagonista. Com cerca de 40 anos de idade pinta a presente obra, desconhecendo-se se era destinada à pequena Capela de A-da-Gorda (nos arredores de Óbidos), ou para outro lugar. Esta tela revela o piedoso ambiente tridentino, expresso num tema de si mesmo doloroso, ligado ao ciclo da Paixão.

Recentemente a obra desta artista e a sua personalidade têm vindo a ser objeto de estudo e de interesse pela comunidade científica e museológica nacional e estrangeira, permitindo reconhecer o labor de Josefa como um valor relevante no panorama da afirmação do Barroco em Portugal.

Conhecida pelos seus piedosos “Meninos Jesus”, pelas suas generosas mesas de doces e pelas Naturezas Mortas, a sua obra sacra destinada às igrejas e conventos não deve ser, contudo, desconsiderada. Do ponto de vista formal tem-se considerado que Josefa tinha sérias dificuldades de representação da anatomia humana, apresentando rostos “abonecados”. No entanto, a presente obra poderá lançar uma nova luz sobre esta questão, já que nela se pinta o corpo sem vida, parcialmente desnudo, de um homem removido da cruz e velado por três personagens lacrimosas: Madalena, Maria e João evangelista, este mesmo também figurado como a vera efígie de um jovem à moda do século XVII, com incipiente barba e bigode.

O realismo da “Lamentação” apresenta um exímio estudo de luz, complementando a sua tradicional paleta, é uma espécie de antítese ao que geralmente conhecemos em Josefa, próxima da gramática de uma outra pintura, com um tratamento temático violento, em que representa “Cristo Flagelado”, mostrando as costas ensanguentadas.

Este restauro faz parte do mestrado de Verónica Ribeiro, sob a coordenação de Carla Rego, Teresa Desterro e Sérgio Gorjão.

Este é o início de um processo de conservação e restauro do património artístico de Óbidos que a autarquia pretende levar a cabo nos próximos tempos.

Press Release (pdf)