O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, é um fã desde a primeira hora do FOLIO – Festival Literário de Óbidos e, como não poderia deixar de acontecer, esteve ontem, 13 de Outubro, na vila histórica para participar neste evento e assistir a algumas das sessões, onde acabou também por ser um dos protagonistas.
Marcelo Rebelo de Sousa destacou o facto de o FOLIO ter temáticas para vários públicos e, por isso, ser tão abrangente. O Chefe de Estado considerou também que o tema escolhido foi muito importante, porque aborda muitas questões e “toca toda a gente, atraindo públicos muito diversos”.
Segundo explicou, uma das razões que o faz visitar o FOLIO é existir sempre um lado inesperado e inovador, que torna único este festival. “Sempre que cá venho, percebo que o FOLIO tem mais futuro do que passado” e passa sempre essa imagem aos editores e comentadores, que, por vezes, têm dúvidas que a próxima edição será melhor ou não. “Eu digo-lhes sempre que o FOLIO é para continuar muito tempo e será cada vez melhor”. Por outro lado, salientou também que este encontro vale ainda mais por ser em Óbidos. Até porque, “Óbidos, mesmo fora deste momento, atrai sempre”.
Em relação à literatura, o Presidente considera que o livro nunca irá acabar e defende que se deve apostar na fomentação da leitura junto das crianças, mas também no apoio ao mercado editorial. “Somos muitos militantes pelo livro e o nosso dever é fazer mais pelo livro”, afirmou.
Quando chegou, o Presidente da República assistiu à conversa entre Lídia Jorge e Nuno Júdice, sobre “O Medo dos Escritores”, a qual considerou ter sido “excecional, com dois enormes escritores que hoje estiveram particularmente felizes nas suas intervenções, perante um tema que era difícil”. Na sessão, Lídia Jorge afirmou que a literatura e a arte em geral são o triunfo contra o medo e Nuno Júdice afirmou que “dar a voz a um medo é a melhor forma de nos libertarmos dele”. Afinal, o medo é importante para tomarmos decisões mais conscientes e “é criativo”, tal como referiu o Presidente da República.
“Há quem tenha medo que acabe o medo”, afirmou, citando o escritor Mia Couto, e alertando para os que instrumentalizam o medo para “acorrentar os outros”. O Presidente contou que fez esta citação num encontro de Chefes de Estado europeus, para lembrar que o medo serve, em determinados contextos, para perpetuar o poder.
Marcelo Rebelo de Sousa participou ainda num psicodrama público, com o tema “O Medo Tem Tempo”, onde lembrou que a realidade ultrapassa sempre a ficção. “Temos de saber viver com o nosso psicodrama e o psicodrama dos outros”, disse.
Em relação à sessão com Ricardo Araújo Pereira, que teve tanta procura por parte do público que acabou por ser transferida para o palco INATEL, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que o humorista conseguiu fazer a ligação entre uma conferência para especialistas e uma conversa com o público.
Ricardo Araújo Pereira fez uma alocução sobre Perseu, semideus da mitologia Grega, e a história em que este mata o monstro Medusa, com a ajuda de um escudo que é também espelho. Na sua opinião, “um escudo que é ao mesmo tempo um espelho, é uma boa definição do humor”, acrescentando ainda que o riso é um requisito da Humanidade para que as pessoas não se transformem em pedra, como acontecia a quem olhasse Medusa nos olhos.
Uma realidade que, transportada para os tempos atuais, Ricardo Araújo Pereira considera fazer todo o sentido. “Não é possível rir e ter medo ao mesmo tempo”, referiu, parafraseando o humorista Stephen Colbert, na noite em que Donald Trump foi eleito.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “a grande causa de hoje é impedir que a moda dos chamados ‘populismos’ acabe por ter lastro e causas para se alargar na sociedade portuguesa”.