Os algoritmos, o erro, o papel das ferramentas digitais nos processos de criação e a importância da tecnologia para os criadores, dominaram os temas da Mesa POD – Plataforma de Ofícios Digitais, a primeira mesa do FOLIO Tec, capítulo do FOLIO Educa, do Festival Literário Internacional de Óbidos, e que decorreu na manhã do dia 11 de Outubro, no Museu Abílio de Mattos e Silva.
Numa conversa subordinada ao tema “Algoritmos e formas literárias – Novas formas de criação”, e que juntou à mesma mesa professores da Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR) de diversas áreas criativas, João dos Santos, diretor da instituição, afirmou estarmos a viver numa sociedade “organizada com um algoritmo, ou com um conjunto de algoritmos”. “As novas formas de criação vão sem dúvida emergir – de uma forma mais suave, mais acelerada ou mais imposta – pelo que teremos de formar recorrendo a outras formas. O modelo de crescimento é que deve ser questionado”.
Sobre esta questão, Pedro Vieira Moura, docente e criativo focado nas áreas da ilustração, BD, criação de guiões, argumentos e outros, defendeu que os algoritmos “não são inúteis”, mas que há que saber utilizá-los.
“Ao escolhermos uma tecnologia, estamos a afunilar as possibilidades de criação”. “No algoritmo, se eu não souber dar as instruções certas, ele não funciona, deita-se fora”, o que contrasta com a “capacidade humana do improviso, de dar a volta a uma situação”. “O computador não tem a capacidade de responder ao erro”.
A nível criativo, “não creio que fiquemos obsoletos” perante a tecnologia, disse o também docente Hélio Oliveira. “A Inteligência Artificial (IA) e os algoritmos não estão perto sequer de se transformarem em criativos ou criadores. As ferramentas ajudam (ao processo). Mas no mundo das artes em geral, não vamos ficar obsoletos. A palavra e a escrita não vão ser substituídos”.
O papel da escola
Perante uma audiência composta por cerca de duas dezenas de alunos, João dos Santos questionou a mesa sobre qual deverá ser o papel da escola (no caso, de uma escola de artes) quando os algoritmos criam a “ideia de que iremos ser dispensados do universo da criação”.
Para Hélio Oliveira, o papel dos professores é “ambíguo”. Nas artes visuais a missão acaba por ser, essencialmente, “passar a cultura normal e dar aos alunos as ferramentas para que possam, eles mesmos, construir o seu caminho”.
Pedro Vieira Moura entende que a função da escola é a de “abandonar a preocupação de formar funcionários para formar cidadãos, pessoas com informação, que sejam capazes de encontrar ‘o lugar da fala de cada um’, e que possam criar verdadeiras comunidades”.