Gibson João e Óscar Fanheiro venceram “ex aequo” o Prémio Literário Fernando Leite Couto, no passado dia 30 de Junho. Este prémio foi instituído em 2017 e tem o objetivo de promover e premiar jovens escritores moçambicanos. O Município de Óbidos, através da estratégia Óbidos Vila Literária, integra este prémio com a missão comum entre todos os parceiros de promover a literatura e o livro como ferramenta de desenvolvimento do território.
O júri, composto por António Cabrita (poeta, editor e crítico), Francisco Guita Jr. (poeta), Gilberto Matusse (professor de literatura na Universidade Eduardo Mondlane e ensaísta), José dos Remédios (jornalista e crítico literário) e Lica Sebastião (poetisa), decidiu atribuir o Prémio Literário Fernando Leite Couto, edição 2023, ex aequo à obra “[Da casa]: o seu inclinado murmúrio”, de Elvira Nhamane, pseudónimo de Gibson João, de 21 anos de idade, residente em Morrumbene, Província de Inhambane; e “Incêndios à margem do sono”, de Aconteceu Castigo Namussurize, pseudónimo de Óscar Fanheiro, de 27 anos de idade, residente na Província de Maputo.
O Município de Óbidos, na impossibilidade de poder estar representado pessoalmente, fê-lo com a gravação de um vídeo, pela vereadora com o pelouro da Cultura, Margarida Reis. Nesse vídeo foram dadas as felicitações aos autores que venceram o prémio, foi reforçado o convite para a participação no Fólio, assim como o trabalho que pode ser feito com a comunidade local.
Recorde-se que a nova edição do Prémio Literário Fernando Leite Couto foi lançada, em 2021. A partir deste ano, o presente prémio passou a ter parceria do Camões – Centro Cultural Português em Maputo, da Câmara de Comércio Portugal Moçambique (CCPM), da Câmara Municipal de Óbidos e do Moza-Banco.
Com o Moza Banco a apoiar o prémio, tornou-se possível atribuir 150 mil meticais (aproximadamente 2 mil euros) ao vencedor que terá, igualmente, a respetiva obra impressa pela CCPM e ganhará uma viagem a Portugal – para participar no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos e realizar, nesta vila, uma residência literária. No seu regresso, o vencedor terá apoio do Camões – Centro Cultural Português, para divulgar a sua obra e orientar oficinas literárias, numa das suas delegações, em Moçambique.
A razão da escolha dos livros
O júri decidiu laurear a obra “[Da casa]: o seu inclinado murmúrio”, de Elvira Nhamane, pseudónimo de Gibson João, porque a sua escrita constitui um exemplo feliz de quem sabe o que expressa e como fazê-lo. Trata-se de um livro marcado por uma apurada maturidade poética, que se enovela num modo discursivo a uma só voz, rico e sucinto. As palavras encenam neste livro uma sedução quase física, ou melhor, as palavras parecem estar a incarnar à nossa frente, artifício que resulta claramente de uma prática continuada de leitura.
“Incêndios à margem do sono”, de Aconteceu Castigo Namussurize, pseudónimo de Óscar Fanheiro, é um livro visceral, que revela a sobriedade do autor na estruturação dos versos e na extensão da emoção da palavra. Trata-se de uma escrita desconcertante, incisiva, na qual se misturam o chulo e o nobre, as metáforas mais ricas e a rudeza do vigor coloquial, o realismo sujo e algumas imagens sublimes, numa comunicação polifónica que, não sendo sempre orquestrada com absoluto ajuste, é de uma inegável coerência estética e se manifesta numa liberdade que deve ser apanágio dos poetas.
Os dois livros são como que mutuamente complementares, dado o carácter solar de “[Da casa]: o seu inclinado murmúrio” e o carácter noturno de “Incêndios à margem do sono”, motivo que justifica a atribuição “ex aequo” do prémio.