Jovem poeta cria centro cultural com valor do Prémio Literário Fernando Leite Couto

FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos

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Otildo Guido, 23 anos, criou um centro cultural em Inharrime, Moçambique, com o valor do Prémio Literário Fernando Leite Couto, criado, em parceria, com a Câmara Municipal de Óbidos, para dar oportunidade à população local de ter acesso à literatura. O jovem poeta foi o protagonista da sessão de apresentação do Prémio, no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, que contou com a presença do escritor moçambicano Mia Couto, do vice-presidente da Câmara Municipal de Óbidos, José Pereira, e de Rui Motty, representante da Câmara do Comércio Portugal Moçambique, também parceira neste prémio.

“Decidi criar um centro cultural, porque queria fazer uma coisa grande de que toda a gente pudesse sentir-se dono, um lugar onde as pessoas pudessem ter acesso ao livro e ser um sítio de intercâmbio cultural”, explicou Otildo Guido, autor de O silêncio da pele. “Há jovens que gostam de ler, mas não têm acesso a livros. Há pessoas com uma certa idade, 50 anos, que nunca tiveram livros.”

O vencedor do prémio atribui a possibilidade de criar um centro cultural com uma biblioteca, que não existia no distrito onde vive, graças à Fundação Fernando Leite Couto, criada por Mia Couto e pelos irmãos em homenagem ao pai. “Mia Couto é para mim e para outros jovens moçambicanos como um pai”, afirmou Otildo Guido.

Orgulhoso com a iniciativa do jovem poeta, Mia Couto explicou que, apesar de precisar do dinheiro e de existir a expectativa da família de que partilhasse o valor do prémio, Otílio Guido optou por criar uma fundação. “É um prémio que nos deu a nós. Recriou em Inharrime uma proximidade com o outro”, sublinhou. “Num país que só é falado por causa da guerra e das calamidades, de repente temos a Paulina Chiziane, a primeira mulher que pega numa caneta e faz um romance, num sistema muito patriarcal, a receber o Prémio Camões.”

Mia Couto referiu ainda que os pais, naturais de Portugal, ensinaram os quatro filhos a amar e a respeitar os outros, ultrapassando as fronteiras da raça. “Quando morreu, demos conta que tinha ajudado vários jovens a publicar livros e pensámos que isso não podia morrer. Era uma forma do nosso pai não morrer dentro de nós”, explicou. Foi assim que nasceu a Fundação Fernando Leite Couto, em Maputo, que apoia jovens que produzem trabalhos nas áreas da literatura, fotografia, pintura e escultura.

Além do prémio monetário e da publicação do livro, Otildo Guido recebeu como prémio da Câmara de Óbidos uma residência literária e 500 euros, e da Câmara de Comércio Portugal Moçambique a publicação da obra em Portugal. José Pereira, vice-presidente do Município, explicou que o objetivo da iniciativa é “promover a língua portuguesa e estimular a produção de obras literárias na língua de Camões”. “A associação de Óbidos é um passo estratégico para a internacionalização da vila na língua literária”, justificou José Pereira. “Cabe-nos olhar de forma atenta para o Outro, para que possamos desenhar um futuro melhor”, acrescentou.

Em representação da Câmara do Comércio Luso Moçambique, Rui Motty felicitou a Câmara Municipal de Óbidos por este “evento extraordinário” e Otildo Guido pelo seu “atrevimento de conseguir navegar na literatura”.

Nota de imprensa